Muita gente que vai a Cusco e Machu Picchu resolve esticar a viagem até a cidade de Puno para ver o lado peruano do lago Titicaca. O passeio que quase todo mundo vai fazer lá é o que vai para as ilhas flutuantes (Uros) e dura apenas metade do dia. A opção que inclui as três ilhas do título deste post é um passeio de dois dias e uma noite, e na minha opinião, faz valer muito mais esta esticada até Puno.
Como falei, a cidade base para ir até as ilhas do lado peruano é Puno. O mais comum é ir até lá a partir de Cusco (ônibus Cruz del Sur – cerca de s/30) ou de Copacabana, na Bolívia (ônibus da Titicaca Bolivia Trans Internacional ou outras – cerca de s/25).
O acesso as ilhas é feito apenas de barco. Não sei se existem outras formas de conseguir um barco até elas, mas com certeza a melhor forma é contratar um passeio.
Escolhendo o passeio
Puno não é uma cidade com muitos atrativos além dos passeios pelo Titicaca, então planeje seu tempo lá de acordo com o passeio que preferir. Basicamente, são três opções:
Uros (metade de um dia)
O passeio apenas para Uros é o mais comum por ser rápido e mais barato. Depois que vi as outras duas ilhas considero ele o mais “turistão”. É interessante conhecer Uros, mas tudo parece ser ensaiado demais. É bom para quem quer passar apenas algumas horas em Puno antes de seguir para Cusco ou para a Bolívia.
Uros e Taquile (um dia inteiro)
O passeio de um dia para Uros e Taquile é feito em barco rápido para conseguir ir e voltar em pouco tempo. É ideal para quem quer navegar pelo Titicaca e conhecer a cultura das ilhas, mas também quer ter um bom hotel para dormir.
Uros, Amantaní e Taquile (dois dias e uma noite)
É o indicado para quem quer viver experiências culturais na viagem e aguenta passar algum “perrengue”, como a falta de energia elétrica e banheiros externos. O passeio inclui a passagem por Amantaní que tem um turismo de base comunitária. Simplificando, lá você almoça, janta e dorme em casa de famílias locais. No dia seguinte, o passeio continua até Taquile e retorna à Puno no final da tarde.
Contratando o passeio
Não precisa se preocupar em reservar nada. Desde o momento que você desce na rodoviária não falta gente oferecendo os tours para fazer em Puno. Você pode contratar os passeios na própria rodoviária, em agências ou na recepção da maioria dos hotéis. No meu caso, ofereceram no hotel o passeio de dois dias pelo mesmo valor que ofereciam nas ruas ( s/85,00) .
Os passeios tem saídas pela manhã e geralmente incluem tudo: transfer do hotel até o porto, o barco e um guia turístico (inglês e espanhol). No caso do passeio com pernoite, inclui também hospedagem e alimentação em casas de família em Amantaní. Apenas o almoço em Taquile não está incluído.
O que se vê lá
As ilhas flutuantes de Uros
As ilhas de Uros são artificiais e podem ser movidas de acordo com a necessidade de seus moradores. Elas são construídas a partir de uma planta chamada totora, comum no Lago Titicaca.
Esta é ilha que visitei vista de cima de um “mirante” construído na própria ilha
Mulheres tratam a Totora, planta utilizada na construção das Ilhas
Os Uros são um povo antigo e já viviam desta forma muito antes da colonização da América. Muitos dos costumes deste povo já foram deixados de lado, mas eles ainda mantém a tradição das ilhas. É incrível ouvir toda a explicação de como fazem isto e viver a experiência de pisar ali, mas a minha sensação é que hoje fazem mais pela exploração turística mesmo. Como já falei, tudo parece ser bastante ensaiado pelos guias, mas não deixa de ser uma experiência interessante!
Nas ilhas flutuantes também vendem artesanato e dos mais bonitos
O Lago Titicaca
Para chegar a Uros você já navega no Titicaca, mas quem vai ver as outras duas ilhas, consegue ter uma noção ainda melhor do quão grande ele é. São 3h de viagem até Amantani e se o dia estiver bonito, você pode aproveitar para ficar do lado de fora do barco curtindo mais a paisagem.
Navegando pelo Lago Titicaca com a bandeira peruanaParece um mar
Amantaní
O seu barco e outros barcos que estão fazendo o tour chegarão quase que ao mesmo tempo em Amantaní. Lá, dezenas de senhoras estarão a espera. Os guias as chamam uma a uma e lhes dizem quem são os seus hóspedes. Feito isso, você deve acompanhar a sua “mamá” até a casa e conhecer o local que ficará instalado. No caminho não rolou muita conversa, pois ela falava apenas um idioma indígena, o aymará. O guia do passeio até tenta ajudar entregando um papel com as palavras básicas que você deve saber nesta língua, mas o que funciona mesmo é mimica e simpatia.
Seguindo a Dona Juana até nossa casa em Amantaní
A cada “temporada” um vilarejo da ilha é responsável por receber os passeios, assim todas as famílias e localidades tem oportunidade para receber turistas, mas você não tem a menor chance de escolher. Eles alocam as pessoas conforme os grupos que viajam e o que as famílias oferecem. A casa da Dona Juana tinha dois quartos para hóspedes, um em que eu ficaria com meu namorado e um outro em que ficaria um japonês que viajava sozinho.
Quando chegamos na casa conhecemos o restante da família: marido, filha, genro e netinho da Dona Juana. Pelo menos os homens falavam espanhol, pois costumam sair da ilha para estudar e trabalhar. O marido dela (que realmente não recordo o nome) foi o que mais tivemos contato, pois ficou conversando conosco enquanto esperávamos o almoço.Foi uma experiência incrível conversar com ele e entender melhor o estilo de vida que levam ali.
Dona Juana, Leandro, Eu, o pai da família e a filha deles – Nossa família de Amantani
As pessoas em Amantaní vivem do campo (sem auxílio de máquinas), não comem carne e não possuem energia elétrica. O japonês que estava conosco na mesma casa ficou transtornado quando descobriu que não poderia carregar nenhum eletrônico e achou impossível existirem pessoas que vivam assim no século XXI.
Na verdade, Amantaní até tem rede de distribuição de energia porque já existiu gerador na ilha, mas quebrou e nunca foi consertado. Com o dinheiro que recebem pelo turismo, algumas famílias estão investindo em placas de energia solar e oferecem o grande luxo (!) de água quente no chuveiro.
Apesar de parecer que eles vivem no “passado”, conversando com o marido da Dona Juana entendi que ali eles tem certos conceitos diferentes dos nossos e me pareceram até mais avançados em certos pontos como liberdade religiosa e casamentos.
Depois do almoço, como orientado pelo guia, o grupo do passeio se reuniu na praça principal para fazer um trekking na ilha. É bem cansativo, pois Amantani está a aproximadamente 4mil metros acima do mar e nós subimos até o seu ponto mais alto. O caminho é todo calçado e haviam vários portais que me davam a impressão de estar completando fases em um videogame. O mais incrível é que eram feitos de pedra, sem nenhum tipo de rejunte.
Olha este portal de pedras, feito de mais nada além de pedras!
Eu quase morri, mas foi uma sensação incrível chegar ao topo e ver o Titicaca se espalhando para todos os lados. Lá em cima também está o Templo da Pacha Mama (Mãe Terra) onde acontecem cerimônias tradicionais do local.
Caminho da subida interminável até o topo de Amantani
Eu só aguentei chegar ao topo, apesar do Soroche, porque a família me deu um chá de Munha. Em Amantaní eles usam isto ao invés da Coca para combater os efeitos da altitude. Também funciona!
Esta sou eu congelando feliz no último portal, já chegando ao topo
Confesso que depois que desci já não era ninguém e por isso fiquei de fora da última atividade do tour em Amantaní. A noite, após o jantar, acontece uma ‘fiesta’ típica, com direito a usar roupas tradicionais e tudo! Se eu tivesse ido, jamais usaria a roupa. Não sei como as mulheres conseguiam usar saia enquanto eu precisava estar com 3 calças.
Taquile
Se em Amantaní falavam Aymará, em Taquile falam Quéchua. A distância entre as duas ilhas não é muito grande, mas nota-se que já tem costumes diferentes. A ilha já é mais estruturada para receber turistas. Existe energia, restaurantes e hospedarias. Visualmente, Taquile também pareceu ser mais bonita.
Menininha admirando a vista de Taquile
No passeio, passamos a manhã caminhando em Taquile, e paramos em algum restaurante para explicações do guia sobre a sociedade taquileña e onde também foi servido um almoço (pago a parte). Esta parte da explicação é super legal, principalmente para entender as vestimentas. Solteiros, Comprometidos e Casados vestem-se de forma diferentes lá a fim de declarar a sua situação. O almoço eu deixei passar, pois andar de barco logo pela amanhã piorou meu Soroche. Depois caminhamos para o outro lado da ilha, onde o barco nos esperava para retornar a Puno.
Casas de Taquile
Dicas práticas
– Os passeios saem pela manhã e, tirando o que vai apenas a Uros, são cansativos. Tente passar a noite anterior em Puno e se puder a noite de retorno também. As opções de hospedagem na cidade tem preços atraentes.
– Aproveite e peça para o hotel guardar a sua bagagem maior e leve apenas o necessário para as ilhas.
– Se for para Amantaní, carregue bem as câmeras e celulares antes de partir. Se costuma fotografar muito, leve baterias extras! Não arrisque chegar a Taquile sem carga.
– Leve uma lanterna, ela pode ser útil se precisar ir no banheiro no meio da noite em Amantani. Os banheiros das casas são externos, mas para emergência eles deixam penicos nos quartos.
– Leve água mineral e algo para petiscar durante o trajeto (são mais de 3h de navegação até Amantaní ou Taquile). Para repor existem vendinhas nas ilhas.
-O Titicaca é o mais alto lago navegável do mundo, e está a 3.812 metros acima do mar. Quem sente o efeito do Soroche em Cusco, continua a sentir lá. Se você costuma enjoar com o balanço do barco, pode ser ainda pior. Tome um chá de coca e separe uma sacolinha para emergências.
Eu tentei colocar neste post o máximo de informações que consegui me lembrar, mas se ainda assim você tem alguma informação, dúvida ou curiosidade, deixa nos comentários! ;)
